segunda-feira, 12 de outubro de 2009

As ruas, o trânsito, e as disparidades

O trânsito de Porto Príncipe, é uma confusão, tem os tap tap, o transporte público daqui, que tem gente até no teto, pessoas andando nas ruas, enfim, uma confusão. O que mais me impressionou é a disparidade das coisas por aqui. Do mesmo jeito que a maioria da população vai e volta do trabalho nos tap tap ou a pé, você vê uns carros importados de ficar babando. Tem um monte de Mitsubishi, Honda, aqueles SUV americanos. Muito carro. E muito trânsito. Quando eu estava em Porto Príncipe, tinha congestionamento todos os dias, demorava quase uma hora pra chegar ao hotel que eu estava.

O lugar onde fica o hotel, aliás, nem parece que é a mesma cidade. Só tem mansão, mas mansão mesmo, daquelas que existem no Morumbi em São Paulo, sacas? E o hotel então, é uma coisa de louco. Cheio de green-go, canadense, toda sorte de europeu e muito brasileiro. Pois é, muito brasileiro trabalhando aqui, seja nas missões de ajuda humanitária, seja ganhando dinheiro mesmo com a pobreza alheia. E eu me incluo nessa parte, porque não vim até aqui fazer trabalho humanitário.

Por mais que você pense num lugar pobre o que se tem em Porto Príncipe é inimaginável pra qualquer pessoa que nunca viu o que se tem aqui. Lixo na rua, muito lixo, as pessoas caminhando, sempre caminhando, não se sabe para onde, as crianças limpando vidro, ou catando lixo na rua, pessoas mutiladas, pessoas vendo a vida passar com um olhar sem esperança. Eu já viajei por muito lugar pobre no Brasil, no sertão nordestino, na Amazônia, e nunca vi pessoas com um olhar como os dos haitianos. Mesmo as pessoas que trabalham no hotel que eu estava tem um olhar triste, apagado, sorriem por educação.

Outra coisa típica daqui: quase não existe supermercado, mesmo porque os ricos compram em Miami (existem umas 10 famílias que mandam no Haiti, o resto é todo mundo pobre, simplesmente não existe classe média), então, em quase todas as avenidas que passei, todos os dias, tem uma feira em que se vende de tudo. De fruta à diesel para os geradores. Aqui quase todo mundo que ganha um pouquinho mais de dinheiro compra um gerador, porque a energia elétrica é fornecida somente 3 horas por dia, quando tem.

Quando estava saindo de Porto Príncipe passei por um lugar que é a coisa mais bizarra que já vi na minha vida. Uma feira, no meio do lixo, gigantesca, com carro, tap tap, pessoas. Pau de Arara é luxuoso perto destes tap tap. E eu não estou brincando.

As coisas são muito caras aqui. Muito, muito caras. Uma pasta de dente, simples, daquelas pequenas, custa mais ou menos 5 dólares. Um quilo de carne, de 25 a 30 dólares. Agora pense que o salário mínimo aqui são 80 dólares e grande parte das pessoas não ganham nem isso.

Amanhã, se eu conseguir: o interior, um lugar muito melhor, mais bonito e agradável para se ficar.

PS: fico me perguntando o que é que o governo aqui fornece pra população de fato. Transporte coletivo não é público, educação não é fornecida pelo governo, saúde eu só vi postos dos Médicos Sem Fronteiras e da Cruz Vermelha. E todo o resto vem de ONG ou da ONU ou das Nações Unidas. O que faz este governo por este povo?

3 comentários:

Alexandre disse...

Oi Vivis,
Não nos conhecemos pessoalmente mas eu te acompanho pelos teus blogs há algum tempo, sempre tenho algo a aprender lendo teus posts.
Vc é uma pessoa valente e corajosa, te admiro por isso. Vá em frente sempre, pois a vida é luta.

Daniele Fatima disse...

Nossa, Vivis, mesmo você relatando não dá nem pra imaginar o que é esse lugar. As fotos são tuas? Bj

vivis disse...

Oi, Alexandre, que bom saber que tem mais pessoas além daqueles que eu já conheço que leem as bobagens que eu escrevo :)

As fotos são minhas sim, Dani!