sábado, 21 de novembro de 2009

esse blog morreu, assim como minhas idas ao haiti.

eu quero é escrever um eu, em são paulo, ficar na minha linda e feia cidade, na minha casa, nos meus bares, nos meus cinemas, na avenida paulista, na augusta e na vila, quero poder responder que moro em são paulo, não que moro num avião ou num aeroporto, quero ver as quatro estações do ano num dia, pegar metrô, subir a consolação pelo corredor de ônibus, pegar táxi na frente do studiosp por que não aguento mais esperar o metrô abrir, ver tv em português, ver os meninos de sp, ouvir o sotaque de sp nas minhas conversas....

eu quero minha vida, por mais besta que seja, de volta.

sábado, 31 de outubro de 2009

Os haitianos

Os poucos com quem consegui conversar eram gente boa. Tem o Charles, que é tipo um garçom (atenção para aula de francês: garçon em francês é moço em português... adorei). Gente finíssima, só fala creoule, e mesmo assim me dizia bom dia, perguntava se estava tido bem, se eu gostava do Ronaldo Fenômeno. A gente se entendia. No final já estava até dizendo pra ele: ça va? Rs

São muito vaidosos. E bem arrumados. Acho impressionante isso, porque, quem passa fome, vaidade é luxo. Mas todos têm uma roupa nova, uma que seja, e sempre estão bem apresentados. Vide a necessidade de tomar banho todo dia, as moças sempre com o cabelo mega arrumado, arrumado demais pro meu gosto.

As crianças indo pra escola é uma graça de se ver. Todo mundo tem uniforme, e geralmente o laço no cabelo das meninas é da mesma cor do uniforme. Uma graça.
As crianças aqui dão vontade de apertar. São lindinhas. Queria levar um menino que vi aqui no hotel pra casa.

Mas eu percebi que eles não curtem muito trabalhar não. Sei lá, acostumaram com ajuda humanitária. Se perderem o emprego tanto faz, porque sempre vai ter uma ONG pra ajudar. Sempre.

E como todos os outros povos que não os brasileiros, protestam. Como protestam. E como pedem coisas. E como são interesseiros. Se você pedir uma informação de como chega a algum lugar, a pessoa vai logo pedindo alguma coisa em troca. Teve um dia aí que tivemos que ficar escondidos no quarto porque eles disseram que invadiriam o hotel. E a polícia não podia fazer nada, porque afinal de contas, estava do lado deles. Eles queriam emprego, mas como você vai colocar alguém pra operar uma retroescavadeira se o cara não sabe operar? E se o mano cai num dos precipícios? É uma vida que se perde. Mas é difícil para eles entender este tipo de coisa. Fazemos o que se pode... Infelizmente, não é muito.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Comer, beber e chorar

Comer para mim é uma coisa complicada em qualquer lugar. Mesmo no Brasil. Eu não como feijão e quase nenhum tipo de grão que lembre sob qualquer aspecto feijão. Só como ervilha, milho e soja. Nada, além disso. Pra mim tudo tem gosto de terra, como o feijão.
Daí que aqui se come muito feijão. A comida é bem parecida com a brasileira. Eu queria ter fotos dessas coisas, mas ó, fiquei com vergonha de sair sacando foto feito turista japonês. Coisas estranhas:

  • Frango com feijão: é um frango cozinho, com feijão preto. Rá! Tipo um frango com ervilha, mas com o maldito feijão. Imagina minha cara quando vi tal quitute num jantar? Queria morrer, porque gordo sem comida, faz mais gordice ainda. Nesse dia aí comi arroz e batata frita. #fome
  • Sopa de abóbora: reza a lenda, que é uma sopa bem típica daqui, que se faz na noite de ano novo e se troca com os vizinhos. Apesar da minha objeção à sopa, essa aí era boa pra cacete. Comi um monte, uma delícia. A abóbora é batida, tem carne, repolho, batata e vagem.
  • Macarrão no café da manhã: tá eu sei que no nordeste se come carne seca com mandioca no café da manhã. Mas sabe, meu, eu sou paulistana, e em São Paulo a gente come pão, leite, essas coisas no café da manhã. Não um prato gigantesco de macarrão. Pelo menos não as pessoas que eu conheço. E ainda se coloca um ketchup pra dar aquele gostinho especial na sua refeição às seis da manhã.
  • Café: ah o café haitiano. Meu nosso senhor dos viciados em café, o que é o café daqui. De tomar de joelho. Não sei se é o grão, não sei se é o modo de fazer – como o cubano, que se mistura a água, o pó, ferve um ‘cadin’ e depois côa – não sei se é o açúcar, mas o café uma delícia. Depois de dez meses tomando aquele café horrível no Chile, o café daqui, ao menos pra mim, é uma coisa dos deuses do café.
  • Arroz com feijão: nosso velho arroz com feijão, só que com feijão preto (sorry cariocada, mas em São Paulo, feijão comum é o carioca). Qual não era meu pesar quando eu chegava pra comer e estava lá o maldito feijão com arroz? Batata frita na gorda.
  • Suco de maracujá (ou granadine, se preferir): o melhor suco de maracujá que já tomei na vida. Sem mais.
Ah sim, eu tomei uma cerveja aqui, que é muito boa. Prestige se chama a danada da cerveja. É bem encorpadinha, tem um gosto forte, uma garrafinha me deixou alegrinha a tarde toda.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Banhos Públicos

Ó, eu fiquei meio chocada com isso, mas enfim. Na frente do hotel que eu estou, tem um canal construído em mais ou menos 1765. Todo dia de manhã tem uma galera escovando o dente neste lugar. No final da tarde é o povo tomando banho. Sem cerimônia, pelado mesmo, como se nada estivesse acontecendo. Aliás, preservar a intimidade de certos momentos fisiológicos aqui é bobagem. Isso foi o que mais me chocou na verdade. As pessoas (velhos, crianças ou jovens) fazem xixi em qualquer lugar que esteja, sejam meninas ou meninos. A primeira vez que vi, achei que fosse um mendigo, mas é difícil identificar um mendigo aqui, por que né? Mas depois, quando vim para Camp Perrin, percebi que é uma prática corriqueira, como cumprimentar o vizinho. Sem cerimônia. Fiquei chocada. Muito chocada. Estou acostumada com esse tipo de comportamento não...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cemitério no quintal, vodu e zumbis

É um costume bem haitiano enterrar seus mortos na frente da casa, no quintal, mesmo. Eu não entendi muito bem porque até que me explicaram o motivo disso.

Quando uma pessoa morre, a alma dela já se foi, e tudo que se pode fazer é preservar seu corpo, sob vigilância, para que ele não vire um zumbi. Segundo me disseram (e eu sou supersticiosa, mas isso está difícil de acreditar) existem duas formas de se transformar em zumbi. A primeira é roubando um morto “recém-morrido” e fazer um vodu (explicando: vodu é a mesma coisa que os trabalhos de candomblé e umbanda no Brasil, não tem nada de bonequinhos sendo espetados não) para que este corpo vire escravo de um mestre (a pessoa que pediu pra fazer o trabalho) ou então, por exemplo, a pessoa tem um funcionário muito bom, sei lá, é um bom vendedor, aí o patrão faz um trabalho para que essa pessoa se torne seu zumbi, só obedece ao mestre e tal. (Se tiver alguém aí lendo, que entenda mais do assunto que eu, e quiser me corrigir, fique à vontade). Segundo o moço que trabalha aqui, é bastante comum ver um zumbi na rua. Eu não sei se acredito ou não, por que né, isso é muito além da imaginação... Zumbi pra mim, só no Resident Evil, ou no clipe do Michael Jackson... rs

Aí então eu entendi a quantidade de túmulo nas ruas. E não existe muito isso de sagrado não. Colocam roupa pra secar, trabalham em cima do túmulo, uma beleza. #medo

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Love 'n Haiti

Por falar em carvão, conheci uma moça – brasileira - no hotel em Porto Príncipe, que faz um trabalho social, reciclando lixo e transformado uma parte dele em briquettes, que é uma espécie de carvão e serve como combustível. O projeto que ela coordena foi escolhido pela BBC para concorrer com outros 12 como uma forma sustentável de desenvolvimento.

Quem quiser saber mais, aqui o site do concurso. Dá pra votar. É um favor pro povo haitiano e tal. A moça em questão, que se chama Eliana, tem apoio do (eca) Bill Clinton, nada mal pra uma brasileira transformando lixo em combustível e tentando diminuir o desmatamento.

O tio Bill falando do projeto:



E mais essa página aqui, com uma música que o Wyclef Jean, fez pro projeto e pra judar a divulgar o BBC.s World Challenge 09.

É só clicar lá no site da BBC é rápido pra votar, não precisa se cadastrar nem nada. A votação acaba dia 13 de novembro.

PS: tá tudo em inglês, sorry!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Beijo-tchau, Haiti

Eu achei o Haiti muito parecido com o Brasil. Não sei se é a quantidade de negros (muito mais que no Brasil, todo mundo aqui é negro), se é o clima, se são as pessoas. A gente é mais alegre, mas também, não dá pra ser muito alegre aqui.
Eu odiei Porto Príncipe, porque lá fedia, como já disse. Agora Camp Perrin eu curti. Uma tranqüilidade, uma paz, sei lá. E um silêncio maravilhoso. Sem contar os bichinhos todos.

Estou indo embora do Haiti hoje. Mas devo voltar depois de 15 de novembro. Tenho milhões de coisas pra falar, mas como passarei dois dias viajando (pra sair daqui tenho que ir até a República Dominicana e de lá para o Panamá e do Panamá para o Brasil), vou deixar uns posts programados.

Até lá então!

Camp Perrin

Camp Perrin é uma cidade bem pequena, com coisas bem curiosas. Aqui, quase 2/3 da população vivem no campo e daí tentam tirar seu sustento plantando café, cana, milho. Mas são poucas as pessoas que fazem isso. A maioria vende carvão, ainda que não exista mais nenhum tipo de embargo econômico. A história do carvão é a seguinte: (segundo a Wikipédia e um haitiano que trabalha na obra que se chama Francis, mas adotou o nome de Franco e fala português muito bem, tão bem que até fala umas gírias com sotaque carioca)



Quando o Haiti sofria embargo econômico de todos – TODOS – os países do mundo, não existia combustível de nenhuma espécie no país, além do carvão conseguido pelo desmatamento. Era uma moeda de troca, como se fosse dinheiro, já que não havia outra forma de cozinhar, seja lá o que se tinha pra cozinhar. Hoje, mesmo depois de alguns poucos anos sem restrições econômicas, a maioria da população ainda tem somente o carvão como fonte de renda.



Camp Perrin é assim, como eu posso dizer, muito bonita se você olhar a natureza. Por que a cidade mesmo é umas ruas e só. Nada de muito espetacular, mas ainda é melhor que muita cidade do interior do Brasil que eu já estive, como as do Piauí, por exemplo.
É de tirar o fôlego a cor das árvores, e o tamanho delas, umas cachoeiras que têm aqui perto e a praia, que fica na cidade de Les Cayes. Aliás, as praias aqui são de querer morrer de tão lindas. O mar tem uma cor linda. Nem vou falar muito, as fotos dizem por si só.